A importância da dose certa
O coração pode sofrer diferentes agressões patológicas como má irrigação pelas artérias coronárias (isquemia ou enfarte), sobrecarga constante de pressão (hipertensão arterial) ou de volume (doença de válvulas) (isto para citar três das dezenas de potenciais causas) e ficar danificado.
A síndrome clínica que resulta da desordem estrutural ou funcional cardíaca que leva ao compromisso da sua função primordial de bomba ejectora do sangue para suprir as necessidades fisiológicas chama-se insuficiência cardíaca, que é uma doença grave, debilitante e com elevada mortalidade. A mediana de sobrevivência após o diagnóstico estará nos 5 anos, a que se juntam múltiplos internamentos, má qualidade de vida, sofrimento do próprio e dos que o rodeiam.
A área cardiovascular é um dos ramos da Medicina onde a intervenção clínica actual tem maior suporte científico e há evidência muito robusta para os benefícios na insuficiência cardíaca da “terapia médica optimizada”. O mesmo será dizer que há para esta doença grupos de fármacos que categoricamente provaram em ensaios clínicos oferecer melhor qualidade de vida e mais tempo de vida, mas registos da “vida real” demonstram que a maioria destes doentes não têm as suas tabelas terapêuticas completas e/ou em doses correctas (neste caso doses insuficientes).
Calcula-se que 80% dos doentes com insuficiência cardíaca têm arritmias ventriculares, que podem agravar a própria doença e/ou provocar morte súbita, que é responsável por 50% das fatalidades.
Para travar o agravamento da doença e prevenir a morte súbita, além dos medicamentos adequados, muitos doentes beneficiam da implantação de pacemakers para tratar bradicardias ou então dipositivos mais complexos com capacidade de ressincronização cardíaca sem ou com cardioversor desfibrilhador para tratar as taquicardias.
A fibrilhação auricular é a arritmia mais frequente na prática clínica e existe em 25% dos doentes com insuficiência cardíaca, duplicando a mortalidade desta entidade. Metade dos doentes com fibrilhação auricular têm insuficiência cardíaca. O seu tratamento é fundamental numa estratégia de controlo do ritmo ou da frequência e da incidência do acidente vascular cerebral.
O cardiologista tem um papel fundamental no diagnóstico da insuficiência cardíaca e das arritmias associadas, gerindo a melhor estratégia terapêutica que passa por garantir TODA a medicação e em DOSES adequadas e em casos selecionados com dispositivos de modulação da actividade eléctrica cardíaca (pacemakers, ressincronizadores e cardioversores desfibrilhadores).